O Parque Indígena do Xingu, criado em 1961 no Estado do Mato Grosso, reúne atualmente uma população de mais de seis mil indígenas pertencentes a 16 etnias das famílias linguísticas Tupi-Guarani, Jê, Karib, Aruák, Aweti e Juruna. Na região sul do parque, conhecida como área cultural do Alto Rio Xingu, concentram-se os povos que tradicionalmente habitavam a área, como Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumaí, Waurá e Yawalapiti. Apesar das diferenças linguísticas e culturais, estes grupos mantêm uma rede de sociabilidade baseada em um sistema de trocas especializadas de artefatos, casamentos e rituais intergrupais realizados anualmente, como o Kwarup e o Jawari.

 

O ritual Jawari foi registrado por Vladimir Kozák, em junho de 1953, na aldeia Kamaiurá próxima à lagoa de Ipavu, na confluência dos rios Kuluene e Kuliseu. Na ocasião, os Kamaiurá estavam recebendo os vizinhos Waujá, Aweti e Yawalapiti para a realização do Jawari – uma série de disputas realizadas entre representantes das diferentes etnias.

 

Organizados em duplas, os jogadores de aldeias distintas se enfrentam, atirando uns nos outros flechas com pontas protegidas por cera, por meio de um propulsor.

 

Kozák documentou as várias etapas deste ritual em filmes, fotografias, desenhos e pinturas. Destacam-se as imagens que retratam a confecção de cocares com penas de gavião e arara; pintura corporal; a chegada de convidados de outras aldeias; as disputas entre anfitriões e convidados; o lançamento das flechas; a distribuição final dos alimentos e a queima ritual das armas antes do término da cerimônia.

 

Além das imagens do ritual, Kozák também registrou o cotidiano das aldeias visitadas, a produção de sal dos Trumaí, a confecção de cerâmica Waurá, o processamento da mandioca, a pesca e a confecção de cestaria entre os Kuiuro, e ainda a elaboração de adornos e pinturas corporais.